Transitando livremente pela fronteira nebulosa que separa - ou não - gêneros como o indie, synthpop e pós-punk, o duo gaúcho MetroidE, formado pelo casal Wagner e Celia, tem muito em comum com a veterana banda alemã Die Art. Essa afinidade deu total autoridade para a banda entrevistar o vocalista H. Makarios com conhecimento de causa. O resultado você vê aqui e na versão impressa da próxima edição do Overclock Zine.
O Die Art começou como uma banda punk. Como acontenceu a transição para o estilo atual da banda? As mudanças de formação ao longo dos anos influenciaram esta mudança?
Sim, começamos como uma banda punk, sabendo três acordes e gritando mais que cantando.
Mas não queríamos nos limitar a esse ponto. A influência de outras bandas que evoluiram a partir do punk também foi forte. Então tentamos começar a fazer mais do que éramos capazes. E consguimos ir além, e buscamos nosso estilo próprio. Mudanças de formação também foram importantes, com os gostos de cada novo membro se incorporando à nossa música. E após alguns anos o Die Art tornou-se uma banda que se distingue na sonoridade e nos vocais.
E o público acompanhou essas mudanças?
A maior parte do público nos seguiu nessa evolução. Quando começamos a fazer música, a situação política era difícil na Alemanha Ocidental e a cena underground crescia rapidamente. A cena acabou se dividindo em uma vertente política e não-comercial verdadeiramente underground de um lado e em uma cena independente tradicional do outro. O Die Art nunca foi uma banda de luta política, queríamos seguir o nosso caminho. Houve um período no início dos anos 90 em que cometemos o erro de abusar de elementos pop do mainstream. esse foi o único período em que nosso público se afastou, mas rapidamente voltamos a nossas raízes e recuperamos a maioria desses fãs.
Como funciona o processo de composição? E de onde vem a inspiração para as letras?
Há três caminhos. Em um deles um membro da banda tem uma idéia e nós fazemos uma canção juntos a partir dela. No segundo, alguém produz a demo em casa e o restante da banda apenas toca a música. No último eu tenho a letra e ela inspira a música. Geralmente eu tenho primeiro a música e é ela que inspira a letra. Mas eu estou sempre escrevendo letras mesmo sem a música. Escrevo estórias e poemas. e minha inspiração vem da vida, do amor, do aprendizado. E incluo "imagens escritas" , por vezes com um toque de surrealismo.
E como você se sente durante a finalização de uma gravação? É algo particularmente gratificante ou apenas faz parte do processo de estar em uma banda?
Finalizar uma gravação é um momento muito gratificante. Vamos a um pub e celebramos o novo bebê! E de fato faz parte do processo de estar numa banda. Por vezes já não suporto mais ouvir minha música, e é uma grande felicidade quando acabamos a produção!
Qual o tipo de reação que vocês esperam do seu público?
De início esperamos que o público siga nossa evolução artística. E caso siga, esperamos que muitos compareçam aos shows. E claro, espero que se sintam como eu. Alguns vezes os fãs nos dizem isso, e sabemos que a nossa música atingiu seus corações. E não ficaremos chateados se todos comprarem o disco!
Há planos para uma tour fora da Europa?
No momento estamos tocando apenas na Alemanha. Com planos para a República Tcheca e Suiça, mas ainda assim, só Europa.
Nos digam cinco bandas com as quais gostariam de dividir o palco.
Primeiramente eu gostaria de tocar com a banda de um grande amigo, chamada Freunde der italienischen Oper, mas a banda se extinguiu há uns dois anos.
A segunda banda é a Fliehende Stürme, com a qual fizemos o primeiro show após uma parada de 6 anos. É uma banda punk dark e algumas das suas letras estão entre as melhores letras em alemão que conheço. E algo bem fora da realidade: tocar com Interpol ou Editors. É um outro patamar. E uma quinta, também bem fora da realidade, seria tocar com Wipers ou Greg Sage.
Como vêem a cena européia e alemã? Há união entre as bandas?
Eu acho que há várias cenas. Punk, Gothic, Metal, Guitar-Pop... talvez bandas dentro de uma cena em particular estejam unidas. Fazemos parte de algumas cenas e de outras não. As cenas se sobrepõem em suas margens. É aí o nosso lugar. É difícil dizer como as cenas funcionam, muda bastante de um país para outro. Mesmo dentro da Alemanha é diferente do ocidente para o oriente. Há várias cenas locais e regionais e muitas bandas tem problemas tocando fora de suas cidades. Por exemplo, Leipzig (a minha cidade) fica a apenas 100km de distância de Dresden. Mas é possível para uma banda famosa em Leipzig ser totalmente desconhecida em Dresden.
O que há de bom em ser uma banda alternativa?
É a nossa vida. Temos uma banda para tocar a música que gostamos. Sem empresários que nos digam o que fazer ou não. Colocamos nas músicas e nas letras o que sentimos. Podemos ser autênticos e nossos fãs gostam disso.
A internet é cada vez mais importante na difusão do trabalho das bandas. Como se sentem sabendo que são ouvidos por públicos distantes, como o brasileiro?
É realmente impressionate. E nós subestimamos isso algumas vezes. Mas é um sentimento bom, que nossa música encontre lugar em outros países, outros idiomas. A música é a linguagem.
Deixem uma mensagem para os fãs brasileiros.
É o mesmo que digo para os fãs na alemanha. Vivam suas vidas, carreguem o coração em suas mãos, mantenham a sensibilidade e enxerguem sob a superfície! Desfrutem da nossa música! E muito obrigado!
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