segunda-feira, julho 30, 2007
Brasil, o Túmulo da Boa Arte
(por HansenharryEBM*)
1989- O jornalista Alex Antunes viaja a Portugal com uma pilha de discos embaixo do braço, de grupos alternativos brasileiros (Akira s e as Garotas que Erraram, Fellini, Harry, Voluntários da Pátria, etc). Um dos lojistas ao se deparar com o Fairy Tales, do Harry, murmura: “Este cá, nós já conhecemos”.
1994- Antes do show do Depeche Mode, o DJ Fabio Spavieri entrega a Martin L. Gore vários discos da cena electronica brasileira. Gore segura o Fairy Tales e diz: “Esse eu conheço”.
Porque então, apesar desse reconhecimento, não tenho nem dinheiro para almoçar hoje?
Eu nunca fui lá muito modesto em relação a qualidade do meu trabalho, assim como também em reconhecer a excelência da cena electronica brasileira desde seus primóridios ( yours truly, Símbolo, Loop B, Morgue, Security Device, Aghast View, Self, Pitch Yarn of Matter, Resonate e tantos outros) até hoje (ainda yours truly, rsrs, Homicide Division, Aire´n ´terre, Shellcode, Klaustrophobik, 3 Cold Men, Pecadores, Dead Jump, Digitaria, Montage, Multiplex e dezenas de outros). No entanto, nenhum deles ganha a vida com seus excelentes trabalhos, enquanto excrescências como a lacraia, vivem pelos Hiltons da vida, antes de se apresentar para um bando de ignorantes que consomem qualquer merda que lhes seja impingida.
Armações não são prerrogativa dos brazucas, estão aí as vagabundas tipo Avril e Britney que não me deixam mentir, enquanto aqui suas contrapartes Kelly kKey e Putty desfrutam de fama e fortuna. Mas a partir de que pelo menos lá fora existe uma estrutura alternativa para bandas que, se não ficam famosas e milionárias, conseguem viver do que produzem,aqui esse espaço é tomado por verdadeiros acintes como a supra citada lacraia, Tati Quebra-barraco (a bosta que cago é capaz de fazer melhor que aquilo) ou mesmo nulidades que a crítica tenta travestir de arte “séria” (céu, Maria Rita).
A net até democratizou um pouco as coisas, hoje é mais fácil expor um trabalho, porém fazer com que a manada o escute é mais complicado, um bando de zumbis sem a mínima opinião própria e que hoje até se orgulha de seu semi analfabetismo, como se escrever certo fosse motivo de vergonha.
As grandes gravadoras, que ajudaram a criar esse cenário caótico, hoje afundam na própria lama, já que mataram o conceito de álbum e hoje a grande maioria não tem senão uma pasta desorganizada de musicas soltas em seus I_tunes.
Francamente, não vejo solução imediata para essa crise, mas uma luz no fim do túnel nos foi dada em 1997 por um simples ladrão, que ao assaltar num posto de gasolina o então presidente da Sony desferiu-lhe 5 tiros na barriga. Ali mesmo, vislumbrei uma possível salvação para nossa indústria fonográfica: 5 tiros na barriga de cada um e está tudo resolvido...
[*HansenharryEBM é frontman/vocalista/guitarrista da pioneira banda eletrônica santista Harry e também destila sua música no projeto-solo Bad Cock.]
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6 comentários:
Verdade! Como é complexa e bizarra a situação que nós [criadores e incentivadores de música e arte não-massificada, intensa e sem maneirismos] vivemos nesse país!
Eu, por exemplo, que desde 1999 (portanto, uns 13 anos após Mr. Hansen ter começado) mexo com eletrônica, não consegui até hoje adquirir nem o mínimo de equipamento pra live p.a., tendo de recorrer a amigos e contatos quando preciso.
Somado a isso tudo, tem o fato de que se você está fora dos supostos "eixões" (que são basicamente as 3 ou 4 maiores capitais do país, algumas cidades do interior paulista e SÓ) você é discriminado com "raça inferior".
Na boa, a única solução - ou melhor, paliativo, porque solução não existe - que encontrei foi tentar criar uma ponte com selos e gravadoras eletrônicos pequenos de tudo quanto é parte do mundo. E é o que venho humildemente tentando com o selo virtual que criei (e que nem vou divulgar aqui, pois não quero soar aproveitador).
Aqui vai um pequeno desabafo, aproveitando o assunto:
A experiência de ver que, desde que me mudei de Niterói pra Campos (dos Goytacazes, RJ), em 2004 - por falta absoluta de grana e problemas com gente dita "culta" (mas de espírito caloteiro e cheio de promessas não-cumpridas)- sinto uma distância absurda das cenas do Rio e Niterói, ao qual dediquei (e sinceramente, perdi) muito de meu tempo. Praticamente ninguém de lá mais contacta ou se interessa em divulgar as idéias sobre produção, apresentações ao vivo, selos, etc;
Foi uma prova de que internet PURAMENTE não é a resposta, pois 70% de meus contatos ainda são do Rio ou Niterói. O simples fato de não estar fisicamente por lá - e o desinteresse certo em custear transportes e coisas assim pra participação em eventos - me afastaram do que acontece naqueles lugares. Nos últimos 2 anos, algumas esparsas participações em eventos em Campos ou São Paulo foram o que me impediram de virar um azedo frustrado com isso tudo!
Enfim, a "salvação PARCIAL" está ou no aeroporto (se bem que isso soa irônico com tudo o que tem acontecido nos últimos meses, heh) ou no uso máximo de tudo que a rede pode oferecer, ou a ambos somados. Triste é confirmar que, desde sempre, sair - mesmo que por uns dias - do país (física OU virtualmente), acaba parecendo ser o único de modo de buscar sobrevivência da música eletrônica não-mainstream nesse nosso Brasil-sil-sil-PQP.
Belo [e realista]texto, Hansen! Me trouxe à tona a vontade de dizer muita coisa! Escrevi de supetão, sem pensar muito, então espero ter deixado clara minha opinião!
Grande abraço do esquizosônico!
Hansen, vá encontrar Jesus na Igreja Universal que vocês descola uns trocados... ganhar dinheiro com música alternativa é utopia e principalmente dentro do grupo que supostamente compraria ou iria a shows dessas bandas.
A arte de reclamar é típica do brasileiro e esse mérito ninguém tira. Quanto a pagar pra ver um show ou comprar um disco ou uma camiseta, etc, esquece. Quem curte música alternativa no Brasil está dividido em duas castas:
- tem dinheiro, vê show fora, baixa música de graça;
- não tem grana, quer VIP ou pagar R$ 5 + vinho grátis e baixa música de graça;
Não existe forma de você ganhar dinheiro com isso se não fizer shows bancados pelo governo.
Bom, tenho um estoque de Harry aqui ainda esperando comprador, isso porque foi uma tiragem mínima e mesmo assim reclamam que nada é feito por aqui.
Quem sabe se a gente vender nos shows (empresários, tem algum por aí?) não dá pra gente comprar um frango com farofa?
O ideal mesmo é fazer as músicas, colocar na Internet, participar de comunidades e tentar ganhar dinheiro de outra maneira. Nosso alento é que pelo menos o público (ínfimo) ainda gosta de música alternativa...
Hansen é a mais triste realidade....
Organizamos as festas/shows, divulgamos e o que acontece? meia dúzia aparece e a outra meia dúzia reclama que nada é feito. Aqui só tem espaço pra Ivetão e outros do gênero...
vcs ai de sao paulo...ou do rio, ou de BH...pensei q isso fosse um drama vivido somente por nós daqui do norte e nordeste...falta de publico realmente comprador, falta de reconhecimento, falta de estrutura etc...cara, o eneas falou tudo: a onda eh produzir, colocar na net, dar um jeito de divulgar pro maior número de pessoas q poder, por que temos mesmo é q ganhar dinheiro com outra coisa, por que com musica eletronica e principalmente underground e alternativa é uma utopia...
abraços hansen e valeu pelo texto...
Olá Wander. Concordo em gênero, número e grau com o que foi escrito. Acho porém que a internet apesar de tornar um pouco mais fácil a divulgação dos bons sons, ela pode se tornar também uma repetição da vida fora dela, em que a grande massa vai continuar consumindo aqueles cinco ou seis artistas milionários. Eu ainda estou pagando pra ver e o Nag Nag Nag é parte desta iniciativa!
Valeu e obrigado por ouvir meu podcast. Ah, já adicionei o seu blog no meu!
Abraço
o que eu estava procurando, obrigado
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